Gerações de Cavernas & Dragões (Matéria Gazeta do Povo)

Materia Gazeta do Povo
Para Renan Nadalini, os RPGistas formam uma sociedade à parte

Pode até parecer coisa de nerd ou mesmo algo mais underground, mas o RPG – Role Playing Game, ou jogo de interpretação de personagens, em português – está mais presente na cultura pop do que se possa imaginar. Quem lê esse texto e nunca ouviu falar em O Senhor dos Anéis ou no game Diablo, que rogue a primeira maldição. Afinal, como algumas pessoas até agora talvez não suspeitassem, todos esses exemplos ou surgiram dos tabuleiros ou inspiraram a criação dos RPGs – leia mais nesta página. E por mais que a modernidade tenha engolido e digitalizado o formato tradicional desse divertimento, jogado por grupos de cerca de seis pessoas com dados e tabuleiro e em que as ações são centradas na interpretação de uma lista de personagens mitológicos, os amantes do gênero continuam firmes por aí.

Eles se dividem hoje em pessoas das mais diferentes gerações, que vão desde os que começaram nos anos 90 e não pararam mais, até os mais jovens, que carregam consigo a missão de manter viva a tradição do RPG. O biólogo Carlyle Sguassabia, de 38 anos, faz parte da primeira leva de jogadores de Curitiba, surgida há pelo menos 20 anos. Considerado um dos papas do gênero na cidade, Carlyle organiza o RPG Fest, evento anual para amantes dos tabuleiros, faz palestras sobre o tema em escolas locais e administra o blog Eu Gosto de Jogar (http://eugostodejogar.wordpress.com). Ele tem em casa uma coleção de mais de 500 livros de RPG, que comprou ao longo de 20 anos de paixão. “Um dos benefícios do RPG é que ele aumenta o gosto pela leitura. Além disso, o jogo incentiva o aprendizado de uma nova língua, já que grande parte dos livros é em inglês e não foi traduzida para o português.”

Pai de dois filhos – um de 17 anos e outro de 18 –, Carlyle conta que joga com os garotos desde que eles eram crianças, embora a preferência atual dos garotos seja pelos videogames. Por outro lado, ainda há jogadores que não trocam por nada o ato de imaginar os cenários e personagens pela tela do computador. Henrique Bevervanso Lensi, de 12, é um exemplo. O jovem, que conta não ser tão ligado nos jogos eletrônicos, ficou vidrado no RPG há dois anos, depois de aprender a jogar com o irmão, de 22. “Adoro histórias de fantasia e da Idade Média, então acabei me interessando por RPG. A galera da minha idade até sabe do que se trata o jogo, mas tem preconceito. Diz que é coisa de nerd. Só que eles não sabem o que estão perdendo”, brinca Henrique.

Bom momento

Mesmo com a presença maciça dos games entre os jovens, o analista de sistemas Helio Greca – integrante da turma das antigas do RPG em Curitiba –, acha que o jogo passa por um bom momento. “Temos mais títulos em português e editoras especializadas no Brasil. Há mais gente que sabe o que é o RPG e, consequentemente, mais jogadores. E a internet tem ajudado muito para isso”, avalia Helio, que de1994 a2001 administrou a loja Rocky Raccoon, direcionada para os amantes desse tipo de jogo, e que possui um blog só para esse público (https://raccoon.com.br).

Por algum tempo, a loja foi um dos pontos de encontro dos RPGistas da cidade, assim como a Gibiteca de Curitiba e a Itiban Comic Shop, lugares em que os jogadores se encontram até hoje. O estudante Renan Nadalini, de 19 anos, se mudou para a capital há um ano e meio, e tem o costume de frequentar a loja de quadrinhos. Para ele, os RPGistas compõem “quase uma sociedade à parte” e unida. “Quem gosta de RPG pode ser encontrado em eventos de cultura japonesa, como o Hana Matsuri, e até na rua, na sem querer, a partir de expressões e conversas típicas dos jogos.”

Games, séries e livros no centro do tabuleiro

O RPG é um jogo mais pop do que parece ser. Tanto que há muitos produtos por aí que têm tudo a ver com ele. Na televisão, o maior exemplo disso é o desenho animado Caverna do Dragão, que em sua versão em inglês tem o nome do precursor dos jogos do estilo, Dungeon & Dragons – o primeiro para tabuleiro. Mais recentemente, também na televisão, a série Game of Thrones, que segue o mesmo estilo de O Senhor dos Anéis, fez a cabeça dos loucos pelos enlatados norte-americanos, com seus seres fantásticos e cenários que remetem à Idade Média e ao RPG. Aliás, tanto Game of Thrones quanto O Senhor dos Anéis surgem a partir da literatura, arte que nutre e é fomentada também pelo jogo.

Entretanto, é nos videogames e jogos para PC que o gênero crava as suas garras com mais força. Além do já citado Diablo, que possui a mesma plataforma dos jogos com rolagem de dados e interpretação, há o game World Of Warcraft, que é igualmente muito famoso entre os aficionados pelo gênero. E o que ilustra essa popularidade do jogo é o recente lançamento oficial de sua versão em português para o mercado brasileiro, em julho deste ano. Um termômetro do sucesso que esse estilo de jogo faz entre os gamers daqui, sejam eles RPGistas ou não.

Jogue os dados

Criado na década de 1960, o RPG é um pouco mais complexo do que parece. Entenda alguns dos seus conceitos

RPG

Sigla para Role Playing Game, ou jogo de interpretação de personagens. Surgiu na década de 60, com o jogo Dungeon & Dragons (D&D), a partir de uma série de referências da literatura fantástica, como as obras de J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis) e Fritz Leiber, nas quais habitam magos, elfos e outros seres. Mais de 40 anos depois, há uma infinidade de estilos de RPG, que se inspiram na idade média, em mundos futuristas ou em seres como vampiros e lobisomens.

Cenários e personagens

O cenário do RPG é o mundo imaginário em que se passa o jogo – a Terra Média no caso de o Senhor dos Anéis, por exemplo. É dentro desse mundo que cada jogador movimenta o seu personagem – que tem características e habilidades próprias.

Mestre e campanhas

As aventuras interpretadas pelos jogadores são ditadas pelo mestre do jogo, que é responsável por conduzi-los pelo cenário e impor os desafios a serem enfrentados, como combates e obstáculos. Essas aventuras são conhecidas como campanhas.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo.

5 respostas para “Gerações de Cavernas & Dragões (Matéria Gazeta do Povo)”

  1. Bom texto. Sou da geração da década de 90. Só uma retificação: rpg se não me falha a memória foi criado na década de 70.

  2. APrabens pela MAtéria e pela citação d amigos que há muito não vejo. Eu com 24 anos de RPG nas costas, atualmente jogo com os meus filhos, um D&D classico bem old school. O que salva é que consigo jogar com outros dinossauros pelo http://www.rpol.net

  3. Curti o texto. E realmente o RPG vem crescendo muito, e com resultados positivos.
    Em minha cidade esta atividade está bem movimentada, tanto para RPG, como outros similares de tabuleiro e cards.
    Enfim, uma atividade de entreitenimento saudavel, que está se desenvolvendo bem e contornando os contras que a mídia desinfirmada o associou uns tempos atrás.

  4. Tai… Duas figuras tarimbadasdo rpg de Curita. O papa Carlile e o Helio Raccoon. Boa matéria, encontrei o blog de vcs dois graças aela.

    Abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *