Review: The Hobbit Board Game

Introdução:

Quem nunca sentiu vontade de sair numa aventura com um grupo de amigos? Passar por poucas e boas, vislumbrar novos horizontes, desbravar cenários selvagens e tudo isso no universo do O Hobbit. Quem conhece a história sabe o que Bilbo e os anões passaram e quem não conhece, terá a chance de se aventurar.

O Jogo:

O Hobbit é um jogo extremamente simples, eu achei mais fácil de entender que Ticket to Ride (tentando dar uma base de quão simples ele é). Diria que é altamente recomendável para famílias que querem que seus filhos pequenos entrem no mundo dos tabuleiros, assim como o livro O Hobbit é indicado para pequenos novos leitores.

A comparação do jogo e do livro é válida pois, ser voltado para crianças, não quer dizer que adultos não se divirtam. No jogo cada jogador é um anão, ou seja, todos fazem parte da mesma comitiva, com o objetivo de recuperar a cidade subterranea da montanha do dragão Smaug. Porém, como objetivo pessoal, cada anão almeja um grande tesouro. Então todos vão juntos, enfrentando os mesmos perigos e o sucesso do grupo depende de todos, mas, ao final da expedição, o que interessa é o anão que terá mais tesouros.

Componentes:

                O jogo é simples, mas conta com uma infinidade de itens. Você encontrará dentro da caixa: 1 tabuleiro, representando o caminho do Hobbit e os anões e suas maiores aventuras, pequenos tabuleiros individuais para marcar os níveis dos atributos dos anões, marcadores de madeira, cartas grandes de aventura, cartas pequenas de anões, peças acartonadas, lindos dados customizados com machados, escudos e provisões, pedrinhas “preciosas” e duas miniaturas, uma do nosso aventureiro e uma do magnífico, tremendo, inacessivelmente rico, poderoso, terrível, estupendo, tirano, mestre provedor de calamidades, Smaug.

                Um ponto muito legal e interessante é que as ilustrações do jogo são de John Howe, ilustrador dos livros de O Senhor dos Anéis que também fez as artes conceituais dos filmes O Senhor dos Anéis e O Hobbit.

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Game Play:

                A partida é rápida, em torno de 45 minutos, indiferente se jogada com 2 ou 5 pessoas. De início é importante definir se todos começarão equilibrados. Para jogadores iniciantes, aconselha-se colocar todos os marcadores de atributos no nível 2, e todos começam com 3 provisões. Embaralhe as cartas de anões e todos começam com 5 cartas. Essas cartas são um baralho de 60 cartas, numeradas de 1 a 60, isso definirá a ordem de ação e quem receberá certos benefícios.

                No tabuleiro, Bilbo é colocado na casa Bag End, que indica o início da aventura, e Smaug em Matar o Smaug o Dragão. No decorrer da partida, Bilbo avança indicando em qual parte da aventura os jogadores estão. Em contra partida, Smaug pode avançar quando os anões falham em alguma aventura.

                Pra finalizar a preparação, as cartas grandes são separadas em evento e aventura conforme o número do verso, que vai de 1 a 4. Essas cartas são a aventura propriamente dita.

                Essa preparação é mais simples do que parece. Agora vou explicar como jogar mesmo, isso em 3 linhas: Revele uma carta de evento, compare as cartas de anões, revele e compare até chegar na casa de aventura. Revele uma carta de aventura, resolva, revele outra e resolva até acabarem as cartas de aventura. Faça isso até o final do jogo. Comparem os tesouros. Fim. Hahaha

                Ok, vou dar mais detalhes, mas depois que você ler vai perceber que é só isso mesmo. Como já disse antes, Bilbo começa na primeira casa indicando o início da aventura. Então é revelada uma carta de evento. Essa carta pode indicar que o grupo avança ou alguma habilidade.

                Se for uma carta de habilidade, ela também descreve quem vai ganhar. Normalmente é uma comparação de cartas do tipo, maior valor ganha a habilidade, ou menor valor. Então todos escolhem uma carta de anão da mão e revelam simultaneamente. Compara-se os valores, e quem ganhar fica com a carta de habilidade. Depois disso, todos compram 1 carta de anão. Depois de resolvido, revela-se outra carta de evento.

                Se for uma carta de avançar, todos escolhem uma carta de anão e revelam simultaneamente. Em ordem crescente, cada jogador moverá o bilbo e receberá o benefício ou malefício que a casa descrever. Depois que todos moverem o Bilbo, todos compram uma carta de anão e revela outra carta de evento.

                E assim vai, até o momento que algum jogador mover o bilbo e ele parar numa casa de aventura. Aí entramos na fase de aventura. Todos recebem provisões e enfrentam os desafios.

                Agora são as cartas escritas aventuras que serão reveladas. Essas cartas virão com certos requisitos, podendo ser Escudo, Machados e Provisões. O jogador com maior iniciatíva tem o direito de enfrentar o primeiro desafio. Para isso ele rola os 5 dados e deve conseguir igualar ou superar o requisito do desafio. Se os dados não derem conta, seus atributos dão reforço, somando escudos e machados ou ainda podendo rerolar alguns dados.

Se vencer o desafio o jogador recebe a quantia de jóias indicada na carta. E outro desafio é revelado, para que o próximo jogador o enfrente. Se falhar, então compra uma peça de dragão, e faz o que ela indicar e o desafio pode ser enfrentado pelo próximo jogador.

                Também é possível que o jogador decida não enfrentar o desafio, então ele é passado a outro jogador. Se todos os jogadores decidirem passar o desafio sem enfrentar, então o dragão avança automaticamente.

                Depois de revelado todas as cartas de aventura com seus desafios, o grupo volta a avançar, revelando as cartas de evento do próximo nível até chegar na próxima aventura e assim por diante.

                Se Smaug avançar e chegar até a cidade do lago (isso são 10 casas), o jogo acaba imediatamente. Se não, a aventura vai até Bilbo estar na mesma casa que o Smaug, e enfrentar todas as aventuras de nível 4.

                Ao final, compara-se a quantidade de jóias que cada um coletou pelo caminho, e quem possuir o maior tesouro é o vencedor.

Dicas:

               Se você está em Curitiba, compareça aos sábados na loja física da Rocky Raccoon. Você pode conhecer e jogar a maioria dos jogos que eu comento aqui. Acompanhe o facebook https://www.facebook.com/raccoonin/ , e instagram @raccoon_loja para se manter por dentro das jogatinas.

                É um jogo leve, não se preocupe em fazer uma super estratégia, faça o mínimo só pra não ficar desbalanceado, o importante é se divertir e dar risada das combinações de cartas que surgem, as falhas críticas nos dados ou êxitos inesperados.

                Há 3 variantes da regra, mas vou comentar a mais interessante e que faz diferença. Se Smaug chegar à Cidade do Lago, todos perdem e os tesouros não são contados.

                Essa dica aparecerá em todas as minhas reviews. Se você tem um grupo que joga sempre e você gosta deste grupo tudo bem, mas se conheceu qualquer jogo em um grupo não usual, antes de decidir se gostou ou não, experimente uma partida com outras pessoas. Pode parecer obvio, mas a diversão pode ser muito maior com as pessoas certas.

                Eu realmente acoselho esse jogos pra quem tem filhos, sobrinhos, ou conheça qualquer criança. Ele é indicado para maiores de 10 anos, mas com um adulto, é facilmente jogado por mais novos. Ele é uma excelente porta de entrada, tanto pra expandir os horizontes dos pequenos que não conhecem os jogos modernos de tabuleiro, quanto aos que não tem o hábito de leitura. Todas as cartas de evento e aventura contém uma frase do livro, condizente ao trecho da aventura que a companhia se encontra, incentivando a imersão e curiosidade.

A Origem dos Jogos de Tabuleiro

Temos mais em comum com povos que viveram na antiguidade do que imaginamos. Apesar das incontáveis eras que nos separam, o eco da existência destes povos ressoa em nossa essência e em nossos hábitos até os dias de hoje.

Podemos não saber muito sobre suas crenças, anseios e o que realmente acontecia no dia-a-dia das pessoas comuns há milhares de anos atrás, mas de uma coisa temos plena certeza: eles também jogavam!

Ânfora Gamer

O jogo de tabuleiro Senet era tão popular e importante no antigo Egito que o Faraó Reny Seneb foi sepultado com um deles. E antes dele, seus ancestrais já jogavam Senet e Mehen há incontáveis gerações.

Enquanto nos túmulos reais são encontrados luxuosos tabuleiros de Senet e Mehen, nos túmulos das pessoas comuns são encontradas versões mais simples e humildes destes mesmos jogos. Nobres e pessoas comuns, todos compartilhavam deste mesmo gosto pelos jogos.

Os romanos, tão distantes no tempo, mas tão parecidos com o que somos hoje, também eram apostadores inveterados do Duodecim Scripta, um jogo que provavelmente se desenvolveu a partir do Senet. E amavam o seu Astragaloi, jogo que eu, descendente de italianos aprendi com a minha família, muitos e muitos séculos depois.

Estatua Romana - Menina Jogando Astragaloi 14 AC
Estatua Romana – Menina Jogando Astragaloi 14 AC

Outro exemplo é o Chaturanga, jogado na Índia desde o século VI, antes de evoluir para o Xadrez alguns séculos depois. O tabuleiro e a maioria peças são as mesmas do Xadrez e embora as regras originais tenham se perdido (da mesma forma que aconteceu com o Senet) todos os elementos do Xadrez moderno estão ali: nada de fatores aleatórios, estratégia pura e complexidade quase infinita.

Todas as culturas desenvolvidas praticavam alguma forma de jogo. Geralmente, esta prática era um indicativo de estabilidade, organização e altos níveis sociais e culturais.

Olhando para o passado da humanidade e para os seus jogos, encontramos uma predisposição universal ao lúdico. É como se os seres humanos fossem programados para jogar, para se sentirem recompensados por estes desafios interativos.

Como esta pré-disposição nasceu e se desenvolveu? Da mesma forma que a religião, com os quais são frequentemente relacionados em culturas antigas, os jogos surgiram e se desenvolveram juntamente com a humanidade.

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Um dos fatores chave para este desenvolvimento foi a forma como nos alimentamos. Nas comunidades primitivas, quando os homens ainda viviam ao ar livre em tribos nômades, a humanidade praticava atividades coletoras de subsistência. Dependiam da caça, da pesca e da coleta, pois ainda não haviam aprendido a produzir alimentos.

Não temos registros históricos claros e precisos deste período, mas da mesma forma que ocorre até os dias de hoje em comunidades indígenas brasileiras, a ludicidade nestas comunidades era essencialmente física.

Os jogos serviam como preparação para as atividades de caça e pesca ou de embates que viriam a ocorrer com outras tribos ou em eventuais encontros com animais selvagens. E assim como viria a acontecer com os jogos de tabuleiro, geralmente estas atividades se misturavam com ritos de passagem religiosos.

A liderança natural da tribo era exercida pelo mais forte. O conhecimento e as experiências adquiridas eram transmitidos coletivamente e incorporados à tradição comunitária, como por exemplo, as melhores estações de caça, a distinção entre plantas e a observação das fases da lua.

Como viviam em constante movimento, literalmente estes grupos possuíam somente o que pudessem carregar. Não existia o conceito de bem individual, tudo era da comunidade e a vida girava em torno da coletividade.

O fim da última da Era Glacial permitiu o aparecimento de novos tipos de comunidades. Trabalhando com a natureza, ao invés de somente explorá-la, essas comunidades concretizaram a Revolução Agrícola do período Neolítico.

Gobekli Tepe

Com isso, pela primeira vez em nossa história, a raça humana passou a acumular bens e desenvolver especialidades que anteriormente não eram possíveis, em virtude da vida nômade.

Não havia mais a necessidade de se viver em constante movimento, a fartura e a estabilidade possibilitadas pela agricultura permitiram que a sociedade se desenvolvesse e se desenvolvesse em vários aspectos, como na escrita, religião e nos jogos!

Os jogos físicos certamente sobreviveram e continuaram a ser praticados, mas ao longo dos séculos a estabilidade propiciou o surgimento de de maior complexidade, com tabuleiros, componentes e posteriormente, com dados – eficientemente difundidos pelos romanos através de todo o seu império.

Séculos mais tarde, o início da impressão mecânica difundiu de maneira irreversível os jogos de cartas, tabuleiro e posteriormente os de estratégia. Com o advento da eletricidade, surgiram os jogos eletrônicos e posteriormente, os videogames. E ao juntar um pouco de tudo isso, surgiu o RPG!

Antigos Dados Romanos

A cada nova tecnologia, lá estão os jogos, insistentemente caminhando ao nosso lado juntamente com a nossa necessidade de interação e competição.

Enfim, jogamos por que somos humanos, somos lúdicos e também, porque este hábito já esta incrustado em nossa essência há muito, muito tempo…