Por milhares de anos os jogos de tabuleiro têm sido fonte de entretenimento para pessoas no mundo todo. Evidências arqueológicas indicam que seu surgimento é anterior ao desenvolvimento da escrita e que em muitas culturas eles possuíam um importante significado religioso.
Confira alguns dos principais títulos dessa biblioteca milenar de jogos.
Tafl
Tafl era muito popular entre os Vikings. No jogo um dos participantes assumia o papel do rei e tinha como objetivo fugir para os cantos do tabuleiro, enquanto o outro jogador (em posse de uma força maior) precisava capturá-lo.
Assim como os genes dos Vikings, Tafl se espalhou por toda a Europa e tornou-se o xadrez daqueles tempos – nobres se orgulhavam em demostrar suas habilidade no tabuleiro.
O jogo possui inúmeras variantes, jogadas em grande parte do Norte da Europa em épocas anteriores ao século IV, até serem suplantadas pelo Xadrez no século XII.
Vaikuntapaali
Vaikuntapaali era um jogo indiano do século XVI utilizado como ferramenta para ensino moral e espiritualidade. Foi popularizado no ocidente com o nome de Snakes and Ladders.
Na versão original, as escadas eram utilizadas para mostrar aos jogadores o valor das boas ações na busca de iluminação, e as cobras para mostrar como as más ações (como roubo e assassinato) trariam prejuízo espiritual ao pecador.
Os vitorianos suprimiram estes ensinamentos morais quando levaram o jogo para a Inglaterra no final do século XIX. Enquanto no jogo original os participantes tentavam alcançar um estado eterno de Nirvana, os britânicos simplesmente tentavam alcançar o “sucesso”.
Quando Milton Bradley lançou o jogo nos EUA em 1943, Snakes and Ladders se consolidou no formato em que permanece até hoje: uma corrida básica para o final do tabuleiro.
Ludus Latrunculorum
Ludus Latrunculorum (o Jogo de Bandidos) foi um jogo de tabuleiro extremamente popular e difundido através de todo Império Romano.
Apesar de não terem inventado o jogo, os romanos foram responsáveis pela sai expansão ao redor do mundo (ou pelo menos do mundo conhecido naquela época).
O jogo é composto por três quadrados conectados entre si. Cada participante escolhe uma cor e coloca alternadamente nove peças (soldados) nas posições de suas preferências. O objetivo do jogo é remover as peças inimigas até que restem no máximo uma. Cada vez que um jogador forma uma linha horizontal ou vertical com três de suas peças sobre o tabuleiro, tem o direito de escolher uma peça inimiga para remover, desde que essa peça não faça parte de um trio inimigo.
A simplicidade do jogo fez com que pessoas de todo o mundo pudessem facilmente construir seus próprios tabuleiros. Alguns deles, datados em até 1440 AC, foram encontrados esculpidos em rochas no Sri Lanka, na Irlanda em sítios arqueológicos da Idade do Bronze e até mesmo na antiga Tróia.
Senet
O mais antigo hieróglifo representando um jogo de Senet é datado entre 3100 e 3500 AC – o que faz dele o jogo de tabuleiro mais antigo registrado pelo homem.
O jogo é composto por um tabuleiro com três quadrados de largura e 10 quadrados de comprimento e um conjunto de 5-7 peças para cada jogador.
Embora suas regras originais tenham se perdido, há um consenso geral de que o objetivo é percorrer as peças através do tabuleiro, usando “tablillas” (pedaços de madeira) como um equivalente para dados.
Embora tenha começado como uma forma de entretenimento, Senet logo assumiu um significado religioso para os egípcios. As casas do tabuleiro foram marcadas com vários símbolos que representam os deuses e outros aspectos da vida após a morte presentes nas crenças egípcias.
Se atualmente as pessoas jogam board games por pura diversão, no Egito Antigo a coisa era mais séria… Durante uma partida de Senet os jogadores se uniam ritualmente em vida ao deus Sol, e assim garantiam antes mesmo da morte um bônus para sobreviver as provações do inferno.
Pachisi
O jogo indiano Chopat é o pai dos jogos cruz-e-círculo, (dos quais o exemplo mais conhecido no Ocidente é o Ludo). Os jogadores percorrem suas peças através do tabuleiro, com movimentos determinados por um lance de búzios (conchas Cypraea).
Peças de um oponente podem ser capturadas ao ocuparem a mesma casa e duas peças de um mesmo jogador ocupando a mesma casa podem fundir-se em uma “super-peça”.
O Imperador Mogul Akbar I jogava Pachisi em um tabuleiro gigante, usando escravas em vez de peças. Infelizmente não restaram relatos sobre como eles formavam uma “super-peça” nestas partidas.
Chaturanga
Chaturanga é um jogo que merece ser conhecido, mesmo que somente por causa do seu enorme legado: o xadrez.
Existem poucos jogos tão amplamente conhecidos como xadrez. Indiscutivelmente um dos jogos mais populares do mundo, é praticado por milhões de pessoas, se tornou uma extensão da Guerra Fria em 1972, é tema de óperas e conhecido como o “Jogo dos Reis” – e nossa versão ocidental não está sozinha. Os chineses têm Xiangqi, os japoneses tem o Shogi, e existem outros equivalentes na Coréia, Tailândia e Índia. O Xadrez é usado às vezes como uma analogia para a própria vida e na cultura popular é um símbolo de inteligência.
Chaturanga , que provavelmente surgiu no Século VI d.C, é o ancestral comum de todas as versões modernas de xadrez. O tabuleiro e a maioria peças são as mesmas do Xadrez e embora as regras originais tenham se perdido, todos os elementos do Xadrez moderno estão ali: nada de fatores aleatórios, estratégia pura e complexidade quase infinita.
O Jogo Real de Ur
O Jogo Real de Ur é o mais antigo jogo de tabuleiro conhecido do qual as regras originais sobreviveram.
Seus exemplares mais antigos datam de cerca de 2600 AC e foram descobertos no Iraque na década de 1920. O Jogo Real de Ur é um jogo de corrida, similar ao Senet, no qual os participantes jogam dados para mover peões até um determinado objetivo.
Pensava-se que o jogo estivesse morto, substituído pelo gamão há mais de dois mil anos, até que Irving Finkel – um Doutor do Museu Britânico, especialista em Oriente Médio (além de entusiasta por jogos) descobriu suas regras esculpidas em antiga tabuleta de pedra. E o mais interessante desta história, é que esta descoberta não aconteceu por acaso…
Aos 11 anos, Finkel foi cativado por um livro sobre jogos de tabuleiro. Seu interesse foi tema foi tão grande que posteriormente acabou sendo apresentado ao seu autor: “Ele me mostrou sua monstruosa coleção de jogos”, diz Finkel, “e transformou a minha vida”.
Finkel ficou particularmente fascinado com o que ele aprendeu sobre o Jogo Real de Ur, que era popular na Mesopotâmia 4.600 anos atrás. Ainda menino, fez uma réplica em madeira do jogo, mas as regras haviam sido esquecidas.
Hoje, ele é o maior especialista do mundo no jogo, e resolveu o mistério de como ele foi jogado.
Após uma boa quantidade de trabalho detetivesco, Finkel foi capaz de recompilar fielmente as regras de um jogo que sobreviveu aos maiores impérios e é mais antigo do que as principais religiões mundiais.
Via: http://listverse.com