Resenha: Eldest

 

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Eldest acompanha o amadurecimento do jovem guerreiro protagonista da história. A narrativa começa três dias após a cruel batalha travada por Eragon para libertar o Império das forças do mal. O Cavaleiro de Dragões se vê envolvido em novas e emocionantes aventuras. Em busca de um tal Togira Ikonoka, O Imperfeito que é Perfeito, que supostamente possui as respostas para todas as suas perguntas, Eragon parte, junto com Saphira, o dragão azul que o acompanha desde o início da aventura, para Ellesméra, a terra onde vivem os elfos. Lá, eles pretendem aprender os segredos da magia, da esgrima e aperfeiçoar o seu domínio da língua antiga.

Houve uma notável evolução desde o primeiro livro. São abordadas intrigas em um nível que não estavam presentes em Eragon, e o autor parece ter amadurecido bastante. Paolini tomou uma decisão que praticamente redefiniu sua obra: Carvahall – o vilarejo em que Eragon vivia – está em perigo, e Roran, seu primo figurante no primeiro livro, centraliza as ações, transformando-se pouco a pouco num guerrilheiro, num aventureiro e herói. Sua mudança é imposta pelos acontecimentos e muito mais sutil e coerente que a de Eragon no primeiro livro, e por isso ele se torna mais crível, com certeza o melhor personagem da obra.

Durante muito tempo, fui crítico com os elfos do autor (ou melhor, com Arya, a única elfa até então). Agora, porém, é mostrado que sua cultura é cheia de cumprimentos, particularidades, meio ao estilo oriental (o japonês, por exemplo, tem trocentas formas de tratamento, cada uma para uma situação específica). Eles são, de fato, mais elaborados que quaisquer outros elfos que já vi. O que esperar de uma cultura de pessoas que vivem séculos? E quanto à própria Arya, ela é amarga, mas a verdade é que é o que se deve esperar de alguém que viveu muito tempo. Um ar distante, por vezes duro e cruel, certa indiferença ao ver as pessoas vivendo seus dramas no pouco tempo que lhes é dado, cometendo as mesmas tolices de seus ancestrais, e se maravilhando com os mesmos pequenos sucessos. O autor também evoluiu desde Eragon no aprofundamento das raças e culturas; ver o anão explicando como faz seu arco, embora remeta aos arcos do oriente, mostra um trabalho de pesquisa do autor.

Um velho ponto negativo é a colcha de retalhos de Paolini. Em Eragon, ele aproveitou uma estrutura tolkieniana num roteiro pesadamente baseado em Star Wars, e isso ainda ecoa em Eldest. Quem não vê Anakin em Galbatorix, Luke em Eragon (criado, inclusive, numa fazenda pelos tios) e Yoda em Oromis? Mesmo o treinamento no coração da floresta remete a Dagobah. E o pior é que as referências não se restringem a essas: a famosa citação de Watchmen (ou melhor, de Sêneca), “quem vigia os vigilantes?”, é transcrita, assim como o conceito da Genki Dama do anime/mangá Dragon Ball. É compreensível que o autor seja uma expressão de sua geração, do que leu e viu, mas ele deveria tomar mais cuidado em expor tão obviamente suas fontes. Isso trabalha contra o seu esforço de construir seu mundo e torná-lo crível, que fez tão bem nesse segundo livro com as filosofias dos elfos e anões.

A conclusão após a leitura é que Paolini melhorou 100% ou mais desde Eragon. Conforme Eldest ganha ritmo e as coisas vão se encaixando, o livro se mostra como um trabalho memorável da fantasia. Os personagens são muito humanizados, e mesmo os elfos são afetados e possuem uma angústia compatível com que vive tanto tempo. A ferreira de Ellesméra, por exemplo, diz a Eragon que não haveria sentido em fazer suas cotas de malha por magia, afinal, e o que ela teria para fazer com o resto do tempo se não tivesse seu trabalho manual tão minucioso? Diferente da maioria dos autores de fantasia, parece que ele compreendeu a sinuca de bico dos elfos: sábios, com certeza, mas também entediados, presos no tempo.

Diferente de Eragon, que se perde no lugar-comum da fantasia, Eldest faz valer suas mais de 600 páginas e é altamente recomendado. Há mais do que uma estória de aventura aqui, e mesmo seus defeitos são esquecidos conforme se avança para a conclusão e tudo se emaranha numa teia de eventos bem tecida e bem resolvida.

Eldest

 

Uma resposta para “Resenha: Eldest”

  1. Olá!
    Uma ótima resenha e concordo que o autor evoluiu muito nesta segunda obra. É fato que Eragon foi apenas mais um livro de literatura fantástica, chupando com força de suas fontes inspiradoras. Entretanto, Eldest trouxe uma profundidade absurda de seus personagens e raças, tornando a obra única mesmo que, para manter sua coerência inicial com as fontes que inspiram o autor, ele tenha se provado “meio plagiador”. Não é a toa que, mesmo com suas referências descaradamente a mostra, eu não tenha me incomodado tanto. Pelo contrário, foi interessante ver boas e antigas ideias sob a nova roupagem do cenário.

    Até and Bye…

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