Não é de agora que a indústria dos quadrinhos flerta com questões sociais que estão em alta na sociedade. Aconteceu com os X-Men e o racismo nos anos 60, vimos acontecer de novo nos anos 2010 em relação a casamentos homoafetivos. Na Archie Comics o personagem Kevin casou, o mutante Estrela Polar da Marvel se casou com Kyle Jinadu, e na DC o Lanterna Verde pós-reboot pediu em casamento o seu namorado Sam.
Mas as editoras ainda são muito medrosas em assumir uma postura firme que exponha sem medo que sim, gays e lésbicas existem. Uma decisão editorial proibiu, semana retrasada, a Batwoman de casar com sua amada Maggie Sawyer. Entre outras alterações de última hora em toda a história da personagem, acabou que os roteiristas J.H. Williams III e W. Haden Blackman anunciaram que irão abandonar a hq. Ficarão somente até a edição 26 que sai em dezembro.
Kate Kane, a Batwoman, é uma personagem assumidamente lésbica desde o começo da sua fase contemporânea, e já pediu em casamento a policial Maggie Sawyer em edições passadas. Fato importante que aliás não recebeu muita atenção da DC. Mas o casamento delas sempre esteve nos planos de J. H. Williams III e W. Haden Blackman, isso foi deixado claro pelos dois que são responsáveis pela história da Batwoman desde a primeira edição em 2011.
Em seu relato, Williams conta: “Nos meses recentes, a DC nos pediu para alterar ou descartar completamente muitas histórias de longa data de formas que nós acreditamos que comprometem os personagens na série. Nos disseram para abandonar os planos para a origem do Killer Croc, forçaram a alterar drasticamente o final original do nosso arco atual, que teria definido o futuro heroico de Batwoman em novas e ousadas maneiras; e, a pior parte, proibiram de algum dia mostrar Kate e Maggie se casando. Todas decisões editorias de último minuto, e sempre depois de um ano ou mais de planejamento e plotagem do nosso lado”. O quadrinista ainda finaliza otimista “Estamos empenhados em levar a nossa fase na revista a um fim satisfatório e nós acreditamos que a edição 26 deixará uma impressão duradoura”.
Os motivos da DC Comics para tal parecem se concentrar no fato de que não querem nenhum personagem casando-se desde o reboot dos Novos 52. Padronização? Estratégia em bloco de marketing? Não vejo muito como isso está ajudando, ou porque igualar as condições de diferentes personagens vai trazer histórias boas ou fazer sucesso. A história da Batwoman, que vinha recebendo ótimos reviews, boas recomendações, e tornando-se uma personagem notória do universo de Batman vai ter uma brusca mudança de direção para entrar na linha da DC e ficar semelhante a outros personagens. Perderemos aí uma ótima linha de história? Talvez, daquela que seria a primeira super-heroína lésbica a se casar ao mesmo tempo que liquidava assassinos no submundo de Gotham City.
As editoras de quadrinhos se aproximam de temas que rompem com o status quo, mas de fato não estão dispostas a mudar muita coisa. Em relação à questão gay, não é diferente. O Lanterna Verde que o diga – pediu o seu namorado em casamento e, na edição seguinte, este foi morto no mesmo trem que recebeu a proposta.
Fonte: http://www.judao.com.br