RPG vem do inglês Role Playing Game.
Game é jogo; Role é papel [referindo-se a parte que cada ator/atriz interpreta numa peça de teatro, cinema, televisão]; Playing é interpretação – então, pela tradução clássica RPG é um jogo de interpretação de papéis, papéis estes inseridos dentro de um contexto, de uma história.
Como é possível interpretar papéis em um jogo? Fácil! Pergunte a uma criança que papel ela interpreta em um jogo de polícia e ladrão. Quais papéis você pode desempenhar na brincadeira esconde-esconde? Quantas outras brincadeiras infantis os participantes interpretam papéis ou funções diferente?
RPG seria uma dessas brincadeiras, jogada ao redor de uma mesa (ou no chão se preferir), com pessoas interpretando personagens fictícios numa história contada por todos,normalmente sob a direção de um jogador denominado narrador, mestre, juiz, anfitriãoetc., dependendo do conjunto de regras a ser utilizado. A partir deste ponto vou usar o termo narrador para referir-me a essa figura e jogador aos demais participantes do jogo.
O narrador desempenha, normalmente, o papel do diretor do jogo e interpreta todos os personagens coadjuvantes, bem como o meio ambiente no qual os personagens estão inseridos. Os jogadores interpretam os protagonistas, agindo ou reagindo ao meio ambiente no qual seus personagens estão inseridos e em relação aos personagens coadjuvantes no sentido de criar uma narrativa progressiva visando a resolução de desafios e evolução dos personagens.
Diferente de uma peça teatral, seriado de tv ou filme, os jogadores não possuem um roteiro que devem seguir, ao invés disso as ações deles moldam a história. O diretor, na maioria das vezes, cria algumas diretrizes e premissas básicas, um esqueleto para a história, mas são as ações dos personagens que forneceram os músculos e farão circular o sangue da história.
O jogo RPG surgiu em meados de 1974 como uma “evolução” dos jogos de guerra (wargames). Gary Gygax e Dave Arneson desenvolveram o Dungeons & Dragons, o pai de todos os RPGs, fortemente inspirado na época pela obra de J. R. R. Tolkien, criador d’O Senhor dos Anéis, e como personagens icônicos ainda permanecem o halfling (baseado nohobbit), o mago (agora nem sempre representado pelo velhinho de chapéu pontudo), o elfo e poderosos guerreiros.
Como trata-se de um jogo de contar histórias, estes RPGs bebem da fonte de algumas obras literárias. Abaixo listo alguns RPGs e suas inspirações:
– Elric: Baseado nas histórias Elric de Melniboné de Michael Moorcock;
– A Game of Thrones: Baseado no romance de George R. R. Martin;
– Lord of the Rings RPG: Baseada e ambientada no universo criado por J. R. R. Tolkien;
– Mouse Guard: Baseado no quadrinho homônimo de David Peterson onde todos os personagens são ratos e os monstros são outros animais;
– The Wheel of Time RPG Game: Baseado na série de romances do autor Robert Jordan;
– Call of Cthulhu: Baseado na obra de H. P. Lovecraft;
– Vampiro A Máscara: Inspirado na obra de Anne Rice.
A lista apresentada acima é propositalmente pequena, representando apenas uma ínfima parcela dos sistemas de RPG existentes e das fontes literárias nas quais se inspiram.
Mas não é somente o RPG que se inspira na literatura, diversos autores inspiram-se no RPG e nos universos fantásticos desses jogos produzindo literatura.
O primeiro romance baseado em RPG foi o Quag Keep, publicado em 1978 pelo autor Andre Norton e baseado em suas primeiras experiências com o jogo Dungeons & Dragons.
Pelo menos 61 escritores já criaram romances – inúmeros dos quais trilogias – para os cenários de Dungeons & Dragons. Entre os vários destaques cito Ed Greenwood, autor canadense criador do cenário de fantasia Forgotten Realms e que recentemente concedeu entrevista aos amigos do site Arcanos do Vale [parte 1 – parte 2]; Gary Gygax criador do próprio Dungeons & Dragons; e R. A. Salvatore, que em suas obras popularizou o personagem Drizz’t Do’Urden. Escrevendo também sobre o universo de StarWars, Salvatore já teve 22 de seus trabalhos listados como best-sellers pelo New York Times. Ele também foi entrevistado pelos Arcanos do Vale [aqui].
O cenário nacional ainda não conta com muitos títulos baseados em RPGs ou que basearam a criação destes, mas eles existem e uma representação pode ser encontrado no artigo de Sérgio Magalhães no Vila do RPG.
Como dica de leitura, deixarei o link para a dissertação de mestrado de Farley Eduardo, da faculdade de letras da UFMG, intitulada No limite da ficção: comparações entre literatura e RPG.