Conn Iggulden narrou ao longo de três livros a história de Genghis Khan. Confesso que ainda não os li, mas como o quarto começa dois anos após sua morte, não vi problema em começar por ele. Nunca tinha lido nada do autor, e nem o conhecia, mas logo de cara ficou claro que ele não merecia ser subestimado. Do começo ao fim, o livro é bem escrito, traz personagens complexos e carismáticos, e a leitura é fluente e empolgante.
O momento histórico abordado pelo livro é complexo e fundamental não só para a Mongólia, como para a Ásia e a Europa como um todo. Ao passo que o império é dividido entre os filhos de Genghis, uma campanha liderada por Tsubodai (um dos maiores generais da história) e com a presença de vários príncipes da nação avança pela Rússia, conseguindo vitórias em pleno inverno (um feito jamais repetido) e Europa adentro, colocando em risco toda o mundo como conhecemos. Não fossem eventos políticos – que o livro explica bem, mas não farei spoilers -, talvez hoje esta resenha fosse escrita em mongol ou chinês.
Não obstante as dificuldades, o autor não se complica, permitindo-se omitir personagens mais secundários para não comprometer a narrativa e focando nos atores principais dessa teia intrincada de eventos. Ogedai, terceiro filho de Genghis e seu herdeiro, tem o coração fraco, e seu irmão mais velho Chagatai (o primogênito e bastardo Jochi morreu antes do pai) não pode esperar pela morte do clã, quando então marchará para a capital Karakorum e ocupará seu lugar.
Na campanha pela Europa, a tensão é entre Batu, filho de Jochi, e Tsubodai; Tsubodai é o orlok, o general máximo nomeado, mas ele não tem realeza, e Batu o confronta na esperança de assumir o controle. Eles vão sendo levados por uma rivalidade cada vez mais intensa, a ser definida do meio para o fim do romance.
A personagem mais marcante do livro, entretanto, é Sorhatani, a bela esposa de Tolui, o caçula de Genghis, que vivia tendo sonhos cálidos com o sogro falecido. Ela é uma mulher astuta e ambiciosa que faz de tudo para assegurar o futuro de seus filhos (só lembrando que seu segundo filho é Kublai, que um dia será Kublai Khan).
Num ritmo constante, nem tão intenso, como também nunca lento, Iggulden conduz essa bela e cativante narrativa, onde os personagens todos não têm inimigos declarados – mas jamais podem confiar plenamente em alguém. É um livro marcante e envolvente. No último dia, li seguidamente 70 das 400 páginas, ávido pela conclusão, que é satisfatória. O autor ainda tem o cuidado de inserir notas no final revelando quais fatos históricos ele modificou.