Ontem a Wizards of the Coast anunciou o desenvolvimento de uma nova edição do D&D. Esta revisão acontece menos de quatro anos após o lançamento da última edição do RPG.
Durante anos, os jogadores de D&D têm criado verdadeiras linhas de batalha sobre qual edição do jogo eles preferem, e a Wizards espera que esta nova versão leve a um cessar-fogo. Mas como eles vão reunir essas diversas tribos D&D após 40 anos de revisões de regras?
A última edição de D&D ainda não tem um nome, embora todos a estejam chamando de 5 ª Edição (ou 5E), principalmente porque a última edição foi a quarta.
O anúncio da nova edição foi propagado através de artigos em grandes sites da mídia, como a Forbes e o New York Times. A Wizards levou um monte de gente da mídia para seu quartel general em Renton, para desvendar e até mesmo executar o jogo através de uma sessão de D&D com Mike Mearls como o Mestre. Por enquanto os detalhes deste jogo estão escondidos atrás de acordos de não divulgação,.
Existem duas coisas importantes no anúncio oficial da nova edição. Primeiro, a Wizards irá desenvolver o projeto de maneira coletiva, liberando partes das regras para os jogadores testarem e em seguida oferecer feedback sobre elas. É essencialmente uma versão beta aberta, e um método de sucesso comprovado – a Paizo Publishing utilizou este sistema quando desenvolveu o Pathfinder RPG em 2009, o jogo que colocou o D&D em segundo lugar.
Segundo, nas palavras de Mike Mearls, “Nós queremos um jogo que se eleva acima das diferenças de estilos, cenários de campanha, e edições e que leve a essência fundamental do D&D e o leve para o primeiro plano do jogo”.
Esta unificação de edições é mesmo possível? Uma viagem através da complicada história das edições de D&D nos mostra como chegamos até aqui, e se existe uma saída.
D&D foi lançado em meados dos anos 1970 através de uma caixa, com regras baseadas em um jogo tático de miniaturas chamado Chainmail. Além disso, alguns suplementos foram publicados, e suas cópias são bastante raras hoje em dia. Esta versão do D&D poderia ser considerada a “Edição Zero”.
No final dos anos 70, as regras do D&D foram compiladas, retrabalhadas, ajustadas, fixadas e alteradas de forma significativa, incorporando muitas das novas regras a partir dos suplementos.
Esta versão foi publicada como Advanced Dungeons & Dragons (AD&D) em 1977, e teve uma vida bastante longeva, com toneladas de suplementos e módulos de aventura. Quando alguém diz: “Eu só jogo a 1ª Edição,” é disto que ele esta falando.
Aqui é onde as coisas ficam um pouco complicadas. Simultaneamente ao desenvolvimento do AD&D, a TSR lançou uma série de conjuntos de caixas chamados simplesmente de Dungeons & Dragons. Eles foram concebidos como produtos introdutórios, para tornar mais fácil para as pessoas aprenderem o jogo e eventualmente passar para o AD&D.
Muitos jogadores tem boas recordações da “Red Box”, lançada nos anos 80 – tanto que a Wizards lançou em 2010 um conjunto introdutório fazendo uma reutilização nostálgica da capa original.
Estes conjuntos permaneceram em produção de 1977 até meados dos anos 90, quando foram combinados em um único livro chamado D&D Rules Cyclopedia. Para todos os efeitos, este é um jogo completamente separado do AD&D, embora obviamente compartilhe com ele muitas regras e conceitos.
A 2ª edição do AD&D foi publicado em 1989. Esta é a edição que retirou do jogo todas as referências a demônios e capirotos para contornar o pânico satanista que estava em voga no momento. Ela mudou as regras de forma significativa. A alteração mais famosa foi a criação de um sistema estranho para descobrir o que você precisava rolar para fazer um ataque bem sucedido, conhecido como THAC0. O combate tornou-se muito mais detalhado taticamente nesta edição.
A 3ª edição foi lançada em 2000. Neste ponto, as caixas de D&D foram interrompidas e este ramo principal da linha de produtos D&D extinguiu o prefixo “Advanced”. A 3ª Edição também acabou com o THAC0, trouxe monstros demoníacos de volta ao jogo e fez várias outras mudanças importantes.
A revisão da terceira edição foi publicada em 2003. Conhecida como D&D 3.5, irritou muitos jogadores que se sentiram forçados a recomprar todos os livros básicos, tão pouco tempo depois de eles terem sido publicados pela primeira vez…
A coisa realmente importante sobre 3ª Edição é que ela foi publicada sob a Open Gaming License, ou OGL. As regras principais do jogo, conhecidas como o Sistema D20, poderiam ser usadas, ampliadas e republicadas por empresas terceirizadas, como um software de código aberto. Ninguém precisava de permissão da Wizards of the Coast para publicar algo baseado nas regras D20, o que resultou em uma explosão de suplementos, aventuras e jogos totalmente novos publicados por de terceiros.
Quando a vida editorial da 3ª Edição terminou e a 4ª Edição foi desenvolvida, a história do D&D tomou alguns caminhos tortuosos e deu algumas reviravoltas dignas do mais tortuoso dos Dungeon Master.
A Wizards tinha licenciado suas duas revistas de jogos para Paizo Publishing. Em antecipação a 4ª Edição, eles revogaram esta licença. A Paizo, por sua vez usou a OGL para revisar e refinar o D&D 3.5 e criar seu próprio RPG, o Pathfinder .
Assim, o Pathfinder é essencialmente o D&D 3.75. A Paizo recentemente afirmou que o Pathfinder é o RPG mais vendido no mundo, apesar da Wizards não divulgar seus números, eu não tenho dúvida de que esta afirmação é verdadeira ou pelo menos muito próxima da verdade.
O que houve na 4ª Edição do D&D? A mudança mais drástica está nas suas regras, com uma reformulação de jogo tão profunda que os personagens gerados nas edições mais antigas são praticamente impossíveis de converter para uso na 4ª edição.
Todas as classes de personagem são equilibradas, dando a todos “poderes” para usar em combate – os Magos têm feitiços, Guerreiros têm elaborados movimentos de ataque e assim por diante. A 4ª está profundamente polarizada entre os jogadores de D&D – muitos acusam a Wizards de emburrecer o jogo baixo, ou tentar atrair desesperadamente os jogadores de World of Warcraft.
Existem muitos aspectos positivos e inovadores na 4ª Edição, mas os números não mentem, o D&D não vai bem.
Isso nos traz de volta para 5ª Edição. Não há nenhuma maneira possível, literalmente, de unificar as várias edições sob um único conjunto de regras. Seria como tentar construir um carro que possa usar peças de um Mustang 2010, um Packard 1950 e um trator.
E como o RPG é um jogo social, a guerra das edições traz um sério problema para a comunidade. Você precisa de um grupo para jogar, e se esse cara prefere a 2ª Edição, esse outro joga a 3ª e esses dois só jogam Pathfinder, nenhum deles começa a jogar.
Parece que a Wizards quer criar uma unificação temática, Um Sistema Para Todos Governar, uma versão de D&D tão perfeita, tão adaptável e em sintonia com os ideais do jogo que vai conquistar todos os jogadores.
É claro que isso é impossível, mas vale a pena sonhar alto. Se você estiver interessado em fazer parte do playtest aberto da 5ª edição, você pode se inscrever no final do anúncio oficial.
Enfim, achei um texto capaz de traduzir meus pensamentos sobre essa “ideologia surreal” da suposta 5th edição de D&D. Permaneço desacreditado em uma unificação de todas as edições do D&D, possibilitando ser ainda mais customizável.
Embora seja um dos meus jogos preferidos e estar torcendo por um solução que traga a energia e força que só o D&D tem é muito difícil acreditar em algo assim, mesmo considerando o fato de Monte Cook estar novamente integrando a equipe de desenvolvimento.
pelo q acredito, eles farão algo “modular”. ou seja, tera conjunto de regras mais “pre-3x” e tb um conjunto de regras 3x pra frente.
como farão isso, ainda é um misterio
Acredito que fãro um clone do Old Dragon… pois o que ele querem fazer foi o que o Old Dragon fez: transformar o D&D novamente num jogo simples e divertido.
Um clone do retro-clone? Essa ia ser bacana de ver, e material não falta: Labyrinth Lord, Swords & Wizardry, Basic Fantasy RPG, OSRIC, Dark Dungeons, Lamentations of the Flame Princess, Microlite74, Myth & Magic, Castles & Cruzaders, Pathfinder, TrailBlazer, Old School Hack, etc… Esqueci algum?
Mudanças, mudanças e mudanças, às vezes nem sempre para a melhor!
Dêem-me 800 páginas escritas em fonte 9 e me chamem de MÓDULO BÁSICO DO GURPS!
Brincadeiras à parte, não é uma questão de ser impossível mas sim do tempo que isso vai consumir e de como se pode jogar com modulações diferentes entre personagens na mesma mesa de jogo, já que o problema não é quando o grupo decide gostar da mesma versão de D&D, mas sim quando cada jogador do grupo adere a uma versão… Aí sim eu considero impossível.
Digamos que eu poderia criar um sistema básico e um sistema avançado (GURPS?), entre os quais eu cito as inúmeras regras opcionais que você pode (ou não) utilizar. O AD&D já teve o Skills & Options nos tempos da 2E, alguém aí se lembra? Havia até a sugestão de subdividir cada atributo em 2, cada um com um foco diferente e ainda mantendo os principais (que tal jogar com 18 atributos hein?). Além disso havia uma série de habilidades únicas que podiam ser selecionadas (falar empaticamente com felinos?) e por incrível que pareça o jogo podia ficar realmente bom (se o DM e os jogadores se empenhassem em entender o que estava sendo acrescentado ao jogo e tornar relevantes estas mudanças).
Não adianta ficarmos especulando sem uma base, a verdade é essa… Vamos esperar as opiniões dos bloggers convidados para o “first look” antes de ficar desperdiçando opiniões baseadas somente em especulações e no desgosto causado pela 4E e nutrido ao longo destes últimos anos. O melhor que podemos fazer é esperar o D&D5 com a mente aberta e torcer que realmente seja motivador e inspirador, trazendo-nos aquela sensação de nostalgia ao mesmo tempo que inova. Monte Cook já provou sua capacidade de nos surpreender por mais de uma vez, vamos dar a ele uma chance de mostrar que pode fazê-lo novamente.
Pathfinder um retro-clone?
Não?
De que jogo? D&D 3.x?
“O combate tornou-se muito mais detalhado taticamente nesta edição.”
Isto é um equívoco, principalmente se levarmos em conta as regras do unhearted arcana do ad&d 1st ed.
” …trouxe monstros demoníacos de volta ao jogo…”
Os monstros demoniacos da 3a ed. não são nem sombra dos da 1a.
“… acusam a Wizards de emburrecer o jogo baixo…”
???
Concordo…
Na verdade, sobre os “monstros demoníacos” da terceira edição, somente a nomenclatura da 2 edição foi alterada, por exemplo, a raça (subtipo) tanar’ri é referida como pertencente aos demônios do Abismo…
Tomei a liberdade de reproduzir sua analogia nos comentarios no blog da gente (deixei sua página linkada por lá, mas não vou linkar porque não estou fazendo propaganda disfarçada, hehehe).
Acho que é um pouco difícil, de fato, conseguirem reunir tudo.
A triste verdade é que é preciso ir ALÉM das opiniões dos convidados. O cara é convidado para experimentar um jogo, recebe mimos e afins, e tende a falar bem, independentemente do que encontrar (não todos. obvio).
A 4a. edição foi elogiadíssima, e funcionou.
O problema de D&D, aliás, é querer viver do passado. Refazer as regras que foram mudadas exatamente por serem entendidas como ultrapassadas?
Não entendo porque eles não copiam mais e melhor o Pathfinder, que não conheço, mas parece ter sido a fórmula D&Diana que mais funcionou recentemente.
E proposta dos cara é incrivelmente inteligente. Veremos como será implementada. Porque se for bem feito será um suporte, inclusive, para os donos de edições passadas a muito, o que daria novo gás para nova geração e para os antigos.